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    Amériques, territoires du livre
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'Ajuda S.A.' : a profissionalização do 'especialista da subjetividade' pela mídia

A sensação de insegurança experimentada por pais e professores na educação de suas crianças, bem como a profusão de conselhos e ensinamentos veiculados em diferentes mídias, são pontos de partida para se discutir a mediação realizada por especialistas no interior da família e da escola – não como um fenômeno novo na configuração social brasileira, mas assumindo contornos inéditos na atualidade...


... É sobre a particularidade da posição social ocupada por esses profissionais que este artigo se propõe a refletir. Quando médicos, psicólogos, entre outros, afastam-se da lógica de funcionamento de seus campos profissionais e passam a atuar como escritores, palestrantes, colunistas de jornais e revistas, apresentadores de programa de televisão e rádio, “blogueiros” – buscando responder às dúvidas e incertezas dos educadores – tais profissionais ganham os contornos dos “especialistas da subjetividade”. É veiculado, por meio de suas falas e escritos, um serviço de socorro aos educadores – a “ajuda S.A.” –, regida pela lógica do mercado, do marketing e da produção em larga escala.

Palavras-chaves: Especialista da subjetividade; Mídia; Autoajuda; Família; Escola.

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Maíra Muhringer Volpe

Mestre e Doutoranda em Sociologia
Universidade de São Paulo

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'Ajuda S.A.' : a profissionalização do 'especialista da subjetividade' pela mídia

 

 

Introdução: a construção de um problema de investigação

          Na teoria sociológica é possível encontrar alguns autores que, partindo de perspectivas teórico-metodológicas distintas, dedicaram-se ao tema do declínio da autoridade parental frente ao saber científico. As análises formuladas por Max Horkheimer e Theodor W. Adorno, desde a década de 1930, acerca das transformações da família moderna, são significativas, pois apontam para a progressiva “socialização” à qual essa família moderna foi submetida. No entendimento destes autores, houve uma crescente “racionalização” de todas as relações humanas na sociedade, uma tendência a comprimir e negar ao máximo o elemento “natural” e “espontâneo” no ordenamento familiar (Cf. ADORNO; HORKHEIMER, 1973: 133). No que diz respeito à função materna, Horkheimer afirma que o vínculo íntimo e afetuoso entre mãe e filho dá lugar a uma relação mediada pelo conhecimento técnico e pela ciência (HORKHEIMER, 1976: 121-2). Passam a existir novos modelos de pai e mãe e, de modo cada vez mais naturalizado, a relação é estabelecida por meio da técnica, sendo a ciência a única autoridade (Ibid., p.31-32).

No final da década de 1940, Claude Lefort chamava a atenção para a profusão de ensinamentos veiculados “pelos meios de difusão moderna” sobre os mais variados assuntos – “do conflito de gerações ao trânsito, da sexualidade à música concreta, da exploração do espaço à educação, nada escapa dos colóquios, das entrevistas, dos debates televisionados” (LEFORT, 1979: 337). E indagava: “como subestimar a ascensão do saber dos especialistas ou dos pequenos mensageiros da vulgarização científica, sobre o casal, sobre a sexualidade, sobre os segredos do organismo ou os do espaço?” (Ibid., p.343). Lefort aponta para a ascensão da mediação exercida por especialistas e por divulgadores do saber científico presentes em diferentes esferas da vida social.

As reflexões de Christopher Lasch sobre a sociedade americana, produzidas entre o final dos anos 1970 e início dos 80, permitem evidenciar que a mediação de um discurso científico-especializado já exista nas relações tecidas entre os membros familiares daquela sociedade. A análise de uma extensa documentação, que abrangia produções culturais da sociedade americana ao longo dos séculos XIX e XX, fez com que o autor destacasse a “socialização da reprodução” – isto é, “a apropriação de funções de criação dos filhos por pais substitutos, responsáveis não perante à família, mas perante ao Estado, à indústria privada ou aos seus próprios códigos de ética profissional” (LASCH, 1983: 193, grifos meus) –, como um traço das relações familiares daquele período. E ainda:

«[...] a indústria da publicidade, os meios de comunicação de massa, os serviços de saúde e do bem-estar e outros agentes de instrução de massas assumiram muitas das funções socializadoras do lar e colocou (sic) as que restaram sob a direção da ciência e da tecnologia modernas » (Ibid., p.193)

O autor observa a participação de profissionais nas relações tecidas entre os membros familiares. No seu entender, houve uma “apropriação de técnicas de criação de filhos pelas ‘profissões auxiliares’” (Ibid., p.207). Psicólogos, “médicos, psiquiatras, especialistas em desenvolvimento infantil, porta-vozes dos tribunais de menores, conselheiros matrimoniais, líderes do movimento pela higiene pública” (Ibid., p.194), entre outros agentes sociais, passaram a mediar a relação entre pais e filhos, ensinando-os como agir.

Adorno e Horkheimer acenam, assim, para um processo que se tornaria mais evidente algumas décadas depois, como as reflexões de Lasch e de Lefort permitem afirmar, no que diz respeito à participação de especialistas e divulgadores do saber científico, não apenas no interior da família, porém em diferentes esferas da vida social, em sociedades e contextos históricos distintos. Tais reflexões indicam a desvalorização do saber dos pais em relação a um saber científico e a necessidade da participação de “pais substitutos” nas “funções socializadoras” desempenhadas pelas famílias.

Este artigo, cuja análise voltou-se à situação brasileira atual, deteve-se na relação mediada estabelecida na educação de crianças. A intenção não foi de compreender historicamente a ascensão de um saber científico em detrimento do dos pais, tampouco de explicar a necessidade da participação de especialistas no interior da família – questões enfrentadas pelos autores citados. Também não se buscou verificar o impacto dessa participação na conduta de pais e professores, isto é, em que medida são ajudados ou se se tornam mais ou menos independentes das orientações desses profissionais. A análise realizada limitou-se a deslindar os contornos de outra figuração dessa mediação no campo educacional. Em outras palavras, a mostrar que a relação mediada entre pais e filhos, assim como entre professores e alunos, não é um fenômeno novo, como as reflexões acima evidenciam, embora assuma formas inéditas se for considerada a atuação de alguns profissionais na sociedade brasileira contemporânea. (1)

 

I. O contexto brasileiro: a profissionalização do especialista

"Ser pai e ser mãe é uma das experiências mais fascinantes e desafiadoras da vida. Sempre foi. A diferença é que antigamente não havia esse olhar profissional, estabelecendo tantas regras de conduta a ponto de transformar a tarefa dos pais e mães numa missão impossível de ser cumprida sem a ajuda de um manual de instruções. ‘Não diga que ama, não diga que não ama; liberte a fantasia, imponha limites; dê autonomia, não trate como adulto.’ Assim fica difícil".

MARCELA BASTOS CIMATTI, São Paulo (Equilíbrio, Folha de S.Paulo, 06/07/2006)

O comentário da leitora na coluna S.O.S. Família, publicada no jornal Folha de S.Paulo (FSP), sintetiza uma experiência vivida pelos pais (e, de maneira distinta, pelos professores): a “difícil” e também “fascinante e desafiadora” experiência de ter um filho.(2) Ela lembra-se do “olhar profissional” que estabelece inúmeras “regras de conduta” que em muito dificultam a “tarefa” dos pais. Refere-se ainda a “antigamente”, quando supostamente a mediação do “olhar profissional” não existia.

Essa sensação difusa de insegurança compartilhada pelos educadores (pais e professores) de que “antigamente” eles sabiam como cuidar de suas crianças – e “atualmente” não –, é reforçada por afirmações feitas por especialistas. Em um dos primeiros artigos da S.O.S. Família, “Para educar é necessário ser impopular”, Sayão afirma:

«Como educar é difícil! Há 30 anos, os pais achavam que sabiam a melhor maneira de educar os filhos. E, sem dúvidas e com todas as certezas, faziam o que achavam certo. Mas hoje, com tantas informações, com tantas teorias, os pais estão com todas as dúvidas e nenhuma certeza» (FSP, 03/08/2000)

Na produção da psicóloga outros escritos recolocam a ideia expressa acima, qual seja, a família sofreu transformações nas últimas décadas que trouxeram modificações às relações entre pais e filhos. Lê-se, então, em outras passagens: “[...] Passamos direto do lado dos que tinham todas as certezas para o lado dos que tinham todas as dúvidas” (Sayão, FSP, 13/12/2001). E ainda:

«As famílias, por variados motivos, mudaram bastante seu modo de viver, principalmente a partir da década de 1960. Até então, a mãe era a rainha do lar, a família não se restringia a pais e filhos, e o grupo de parentes se reunia com regularidade, [...] » (Sayão, FSP, 02/02/2006).

Poder-se-ia dizer que Sayão localiza na segunda metade do século XX as alterações na “dinâmica” familiar. A família, e também a escola, como ela acrescenta em outros escritos, perdem as “certezas” que “antes” possuíam na educação de seus filhos e alunos. Associada às expressões “todas as dúvidas” e “nenhuma certeza”, está a ideia de que muitas “informações” e “teorias” rodeariam os pais. Um fragmento do livro Família: Modos de Usar, reforça tal associação:

« [...] esse discurso profissional [o discurso médico, o psicológico e o pedagógico] vem colaborar com um duplo rompimento, eu creio. Primeiro, com a própria função de pai e mãe, já que estes abdicam do que eles mesmos poderiam pensar sobre o que fazer e o que não fazer com o filho, em nome desses discursos ditos científicos e profissionais. Segundo, com tudo aquilo que pais, avós e outros antepassados disseram, fizeram e construíram. Esse patrimônio passa a ser considerado anacrônico porque, no lugar da tradição familiar, introduzimos o discurso profissional» (Aquino; Sayão, 2006: 77).

As falas e os escritos de Sayão colocam a dificuldade de educar crianças e adolescentes “hoje” – dificuldade supostamente vivida por pais e professores a partir da década de 1960 (ou 1970, dependendo do enunciado) – associada à existência de um “discurso” dito “profissional” e “científico” que, de um lado, contribuiria para o rompimento da “função de pai e mãe”, que abdicariam de um julgamento autônomo “em nome desses discursos”, e, de outro, contribuiria para o rompimento com a “tradição familiar”. Por isso, “hoje”, aos olhos desta psicóloga, bem como de outros profissionais e dos próprios pais (expresso na frase citada anteriormente), “exercer o papel de mãe e de pai é uma tarefa árdua e angustiante” (Sayão, 06/07/2006), ou, em outros termos, é uma “missão impossível de ser cumprida” (Cimatti, FSP, 06/07/2006).

As transformações ocorridas no interior da família, o surgimento de novas “teorias” e “informações”, teriam provocado essa sensação de insegurança compartilhada não só pelos pais, como também por professores. Essas incertezas, a demanda por aconselhamentos dos especialistas e os diferentes meios pelos quais o socorro é formulado, foram os pontos de partida para esta reflexão. No entanto, ao contrário do que é percebido pelos educadores e veiculado pela mídia, algumas análises sociológicas, como as mencionadas na introdução, apontam para o fato de que a mediação exercida por especialistas nas relações familiares e no interior da escola desde há muito acontecem. É preciso, portanto, matizar a ideia de que “antes” os pais sabiam educar e “hoje” estão inseguros.

O interesse maior nesta reflexão é jogar luz sobre alguns enunciados do discurso voltado ao campo educacional contemporâneo. Para tanto, lançou-se mão de um outro contexto histórico, a fim de explicitar algumas diferenças entre um discurso científico-especializado, expresso em falas e escritos de especialistas vinculados a instituições de ensino e ao Estado, e o “discurso” que circula nas mídias, expresso por “mensageiros da vulgarização científica”, nos termos de Lefort, ou “especialistas da subjetividade”, como nomeados aqui. (3)

Os “especialista da subjetividade” – uma ferramenta conceitual criada no bojo desta reflexão para destacar um modo particular de mediação, com fontes distintas de legitimação –, abarca um grupo de profissionais que, embora possuam diferentes formações acadêmicas (Psicologia, Medicina, Filosofia e Educação), atuam de maneira semelhante. Suas falas e escritos circulam nas diferentes mídias, no mercado de palestras e assessorias, não sendo veiculados a partir de uma instituição, tampouco sendo representantes de uma. (4)

Ao voltar-se à configuração social brasileira, tem-se na obra de Jurandir Freire Costa, Ordem Médica e Norma Familiar, o desenho de outro contexto histórico, o século XIX, em que a família era atravessada por um discurso científico-especializado. O autor parte da “crise da família contemporânea” – percebida por ele na sociedade brasileira do final dos anos 1970, e busca na formação da família higiênica, com suas condutas e sentimentos normalizados pela medicina, uma medida para se compreender a particularidade das complicações atuais.

« Não há como negar esta evidência; os indivíduos pertencentes à pequena, média e, em menor escala, grande burguesia urbanas parecem ter renunciado ao direito de resolver, por conta própria, suas dificuldades familiares. Cada dia mais apelam para especialistas, em busca de soluções para seus males.

Entretanto, ao contrário do que pode parecer, esta posição de dependência para com os agentes educativo-terapêuticos não é estranha à história da família burguesa. No século XIX, sua antecessora, a família oitocentista de elite, foi submetida a uma tutela do mesmo gênero. A medicina social, através de sua política higiênica, reduziu a família a este estado de dependência [...] » (COSTA, 1999: 12)

Partindo da análise das teses defendidas na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro durante o século XIX, assiste-se à passagem da família colonial à “família colonizada”, nas palavras do autor, por via do discurso médico. Na constituição da família higiênica, cada parte do corpo do indivíduo foi alvo de um controle: por meio da educação física, da educação moral, da educação intelectual e da educação sexual. A relação entre pais e filhos também foi modificada, pois o saber médico construiu e ensinou outra maneira de “amor familiar” (COSTA, 1999: 15). Dessa forma, Costa dedicou-se ao estudo da transformação e normalização das relações familiares, numa sociedade onde “amar e cuidar dos filhos tornou-se um trabalho sobrehumano (sic), mais precisamente, ‘científico’” (Ibid., p.15).

Percebe-se, então, com sua análise, que a mediação dos especialistas no processo educativo não é exclusiva à configuração social atual, mas remonta à constituição da família burguesa brasileira. Seu trabalho é importante por conceber a “crise da família” como um fato social que se perpetua no tempo, além de evidenciar que a participação de especialistas, na formulação dos comportamentos dos membros familiares, contribuiu (e, a nosso ver, contribui também hoje) para a fabricação desta “crise”, nos termos de Costa. Há, no entanto, novas maneiras de atuação dos especialistas – empreendidas pelos “especialistas da subjetividade” – e distintos modos de legitimá-las socialmente.

Com a pesquisa de falas e escritos retirados das produções de diferentes profissionais,(5) percebeu-se que eles são formados em diferentes campos do saber, mas é pela atuação semelhante que se aproximam e compõem outro métier, muito diferente do das profissões nas quais foram formados. É sobre este “campo” dos “especialistas da subjetividade”, sobre as particularidades destes “especialistas”, que a análise a seguir se dedica.(6)

 

II. “Especialista da subjetividade” – a produção de Rosely Sayão

          Sayão é uma psicóloga que se afastou das atividades convencionais de sua profissão (a clínica, a psicologia escolar, a docência no ensino superior) para desbravar o métierdos “especialistas da subjetividades”. Ela pensa, fala e escreve a respeito da educação familiar e da educação escolar como “desafios” que geram “angústia” aos educadores (Cf. SAYÃO, FSP, 19/09/2002; 06/07/2006). E ela não está sozinha nesta constatação, pois sua voz é reforçada por outros profissionais – que também escrevem livros, artigos em jornais e revistas, possuem programas de rádio e televisão, páginas pessoais e blogs na internet, participam de chats, bem como dão assessorias e ministram palestras em escolas e empresas. É entre “desafios”, dificuldades e dúvidas, mas também soluções e esclarecimentos, que os “especialistas da subjetividade” se colocam. Eles tentam ajudar pais e professores, ensinando e aconselhando-os sobre como agir. Buscam, assim, solucionar o que é vivido como conflituoso e sem sentido na relação com filhos e alunos. (7)

A partir da construção da família higiênica fornecida pelo trabalho de Jurandir Freire Costa, poder-se-ia tecer algumas interpretações relacionando a atuação médica no século XIX e a dos “especialistas da subjetividade” na configuração social atual. Grosso modo, é possível afirmar que há, para cada um dos contextos, um discurso social que se mostra capaz de dar garantias e prescrever certezas, bem como esclarecer o que se apresenta como “obscuro” aos que não são especialistas. Isto é, um discurso que consegue ensinar como se deve viver no mundo social.

A despeito da semelhança assinalada acima, cabe destacar algumas diferenças entre eles. Tal diferenciação não implica estabelecer juízos de valor, ou seja, denunciar qual discurso seria mais ou menos legítimo para ajudar os educadores, e sim mostrar de que modo essa ajuda é prestada, além de traçar algumas fontes de legitimação social que dão suporte à sua existência.

Uma das diferenças são os lugares em que estes mediadores se posicionam. Os higienistas, segundo Costa, eram um braço interventor do Estado na esfera privada da família. Eles ocupavam uma posição institucional. É a partir desta posição que construíram um projeto para o país – a criação de indivíduos obedientes ao Estado e saudáveis física e moralmente –, e buscaram realizá-lo. Nas palavras do autor, “o repertório de sentimentos e conduta antes administrado pela família foi encampado pela medicina e, por meio dela, devolvido ao controle estatal” (1999: 64).

Os “especialistas da subjetividade”, por outro lado, não estão nem no âmbito acadêmico, nem no estatal. Eles não se pocisionam no interior de uma instituição como o lugar a partir do qual seus ensinamentos são proferidos – eles circulam por diversos meios (escrito, televisivo, eletrônico, comunicação oral). Devido a este traço particular – a mobilidade do lugar de onde se fala – é possível afirmar que as dicas e os conselhos divulgados em grande escala são emitidos de lugares equivalentes. Assim, a fala dos “especialistas” não parte de e não representa uma instituição: é uma fala que circula pela mídia e pelo mercado de palestras e assessorias. Como já mencionado, eles constituíram outro “campo” de atuação, com leis próprias de funcionamento e com mecanismos diferentes de legitimação de sua posição, que não se confundem com os partilhados pelos higienistas no século XIX, tampouco com os partilhados pelos especialistas que lhes são contemporâneos, vinculados a instituições estatais ou de ensino. Isto porque é nessa circulação de suas falas e escritos que lhes é garantida, em grande medida, a sobrevivência social – e não somente pelo vínculo institucional. Os “especialistas da subjetividade” também vivem de “desafios” e de “problemas e dificuldades” enfrentados pela família e pela escola. Ou seja, eles sobrevivem social e, em certa medida, materialmente, discutindo a existência de tais “problemas e dificuldades”, dando realidade aos “desafios” enfrentados por pais e professores no processo educativo e, sobretudo, socorrendo-os em suas relações com as crianças e os adolescentes.

O discurso médico, por ser um discurso institucional e “legislador” (Cf. LEFORT, 1977), visa certo tipo de ordenação da sociedade. Dito de outro modo, enquanto no contexto histórico esboçado por Costa há a ideia de um projeto coletivo a ser realizado por meio da intervenção médica na família, os “especialistas da subjetividade”, ao resolver pontualmente os conflitos trazidos, agem no imediatismo de cada dúvida feita por uma mãe, um pai ou um professor em particular.

O escrito abaixo, retirado de Momento Família, um bate-papo em tempo real com Rosely Sayão no Portal Universo Online, ilustra a ajuda pontual prestada a uma internauta. Esta não sabia como agir com sua filha “rebelde” e a psicóloga procurou explicar-lhe qual era seu papel:

«(04:23:00) morcega fala para Rosely Sayão: minha filha (fruto do meu 1º relacionamento) está muito rebelde, não me obedece, xinga o padrasto, isso é uma fase ou pode continuar ao longo dos anos? (temos um bebê deste relacionamento).

(04:23:05) morcega fala para Rosely Sayão: ela não ajuda em nada aqui em casa, devo impor?

(04:35:39) Rosely Sayão: morcega, deve. Papel de pai e mãe é este mesmo. Enquanto o filho não tem autonomia para viver por conta própria, é pelas imposições que aprende, para mais tarde os pais fazerem proposições em vez de imposições. Filhos não aprendem como tarefa ajudar os pais. Eles têm outros interesses. Você tem que separar algumas tarefas, começar com uma ou duas, e colocar mesmo. Quando não fizer, tem que arcar com as conseqüências disso. Agora, xingar o padrasto não pode. É preciso impor também este limite, senão ela não vai aprender a ser polida quando tiver que discutir com outra pessoa, vai sempre achar que funciona melhor pela violência verbal. É importante impor a ética do respeito» (momento família, 18/04/2006).(8)

Utilizando-se de uma linguagem direta e afirmativa, a psicóloga assinala o que a mãe “deve” ou “tem que fazer” – “deve [impor tarefas domésticas a filha]”; “Você tem que separar algumas tarefas”; “É preciso impor também este limite”; “É importante impor a ética do respeito”. Ademais, fornece explicações de porquê impor limites: “senão ela não vai aprender a ser polida quando tiver que discutir com outra pessoa, vai sempre achar que funciona melhor pela violência verbal”.

Nesta interação,Sayão se colocou como uma profissional que rapidamente tentou solucionar o conflito vivido. Esse tipo de ajuda, expressa numa linguagem direta, geralmente é observada nas palestras e chats, momentos de encontro do “especialista” com seu público. Quando a ajuda é expressa em artigos ou livros, a linguagem na maioria das vezes ganha um tom mais elaborado: os escritos de Sayão não buscariam responder imediatamente “o que fazer?” ou “como fazer?”, mas, sim, fariam reflexões. [9]

O discurso médico estudado por Costa mostrou um distanciamento entre os que eram especialistas, que detinham um saber científico, daqueles que não o eram. Em relação a essa diferença, Lefort afirma que o discurso científico-especializado “falava do alto” (1977: 18) por estabelecer claramente a distinção entre aquele que possuiria a autoridade advinda do saber científico e aquele que não. O “discurso dos especialistas da subjetividade”, ao contrário, tenta criar uma proximidade entre aquele que emite o aconselhamento e aquele que o recebe. No post de estréia do blog, Sayão coloca-se como “mãe” aos leitores, afirmando que também tinha dúvidas quanto à educação de seus filhos – mesmo sendo psicóloga (Cf. post, 19/03/2006). Para aproximar-se, Sayão buscou identificar-se com os leitores: afastando-se, naquele instante, de seu papel de psicóloga para mostrar-se como mãe.(10) Outra distinção diz respeito ao imperativo da ciência que autorizava e legitimava o discurso médico do período estudado por Costa. Já entre os “especialistas da subjetividade”, o saber científico e especializado é apropriado pela lógica da literatura de autoajuda. Dever-se-ia fazer referência, então, ao imperativo do mercado quando se trata da produção de profissionais como Rosely Sayão. Isto porque a legitimidade do “discurso dos especialistas da subjetividade” não está assentada somente na autoridade acadêmica de quem o profere.

No caso particular de Sayão, apesar de não possuir outras titulações além da graduação em Psicologia, ela é chamada por importantes escolas paulistanas (frequentadas por filhos de famílias abastadas) para palestrar aos pais e prestar assessorias às equipes de professores e coordenadores. Desse modo, a circulação de suas falas e escritos por essas escolas, bem como pelos mais diferentes meios de comunicação, indica que sua produção mobiliza outras formas de legitimação, além da excelência acadêmica.(11) A visibilidade pela frequente aparição nas mídias seria uma dessas formas.(12)

 

III. A visibilidade como fonte de legitimação ou considerações finais

          Ao grande público, as falas e os escritos dos “especialistas da subjetividade” parecem ser carregados de autoridade para explicar e solucionar o que é vivido com incerteza. Embora esta reflexão não tenha se dedicado ao estudo de possíveis mudanças nas relações familiares suscitadas pelas orientações prestadas, não se pode negar a demanda pelo serviço de socorro considerendo-se, por exemplo, a elevada venda de livros desses profissionais ou a quatidade de palestras realizadas.(13) É como se esses “especialistas” soubessem mais sobre seus leitores, telespectadores e ouvintes, do que eles próprios.

A reflexão de Pierre Bourdieu acerca do “campo jornalístico” francês iluminou a análise deste traço particular dos “especialistas da subjetividade”, qual seja, a visibilidade. O sociólogo, ao debruçar-se sobre as produções na televisão e na mídia impressa dos jornalistas na França, em meados da década de 1990, montando os mecanismos de funcionamento que regem o “campo jornalístico”, forneceu elementos que contribuíram para a construção do lugar de onde os “especialistas da subjetividade” falam e se expõem para o público. (14)

O discurso científico-especializado expresso nos escritos, por exemplo, publicados em revistas científicas é legitimado pelo saber médico do qual se apropria; já o “discurso dos especialistas da subjetividade”, enunciado na produção de Rosely Sayão, possui uma legitimação que é distinta. A visibilidade proporcionada pela exposição e circulação no mercado de livros, palestras e assessorias, bem como nas mídias impressa e eletrônica, asseguram-lhe a legitimidade. Ser visível ao grande público e ter acesso “à expressão em grande escala” (BOURDIEU, 1997: 66) – dão legitimidade à posição desses “especialistas”.

Os “especialistas da subjetividade” são profissionais que, a despeito de suas diferentes formações, atuam de maneira semelhante: veiculam um serviço de socorro, aqui denominado de “ajuda S.A.”.

A expressão “Sociedade Anônima”, utilizada para qualificar essa ajuda, refere-se, por um lado, ao público, e, por outro, aos “especialistas”. Em relação ao público, “S.A” traz o sentido de ser um serviço prestado a quaisquer pessoas com dúvidas acerca da educação de filhos e alunos. Diferentemente do tratamento médico ou psicológico, dirigido a um indivíduo ou a um grupo específico, a “ajuda S.A.” visa o grande público, fornecendo orientações generalizantes que podem ser seguidas por qualquer um. (15)

No que diz respeito aos “especialistas da subjetividade”,“S.A.” remete à lógica empresarial. Os critérios que regem tal prestação de serviço são: o sucesso de vendagem medido pelo número de edições, em qual editora publicou, a quantidade de palestras realizadas, o número de participantes, a quantidade de escolas assessoradas, por quais jornais e revistas bem como emissoras de TV e rádio são contratados.(16) É a relação entre o acúmulo desses “indicadores” e a visibilidade da produção que confere legitimidade às suas carreiras. Em outras palavras, a lógica empresarial é mobilizada por esses profissionais para realizarem sua atividade – tanto no sentido de prestarem serviços a empresas (emissoras, imprensa, editoras) quanto no de ajudarem educadores.

Tais “especialistas” estão, assim, imersos na lógica do planejamento de mercado e da produção em larga escala. É nesse sentido que se chama a atenção para certa profissionalização do “especialista” na configuração social atual: ele é enredado pela organização do mercado.

 

Notas de rodapé

(1) Recupera-se aqui, de maneira concisa, a análise empreendida em minha dissertação de mestrado – “S.O.S. Família e Escola: um estudo sobre a mediação dos ‘especialistas da subjetividade’ no processo educativo” (2007) –, realizada no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de São Paulo, com a orientação da Profa. Dra. Irene Cardoso e o auxílio do CNPq.

(2) A frase da leitora Marcela Bastos Cimatti foi retirada de Bate-papo, uma seção que traz comentários do público-leitor sobre a coluna S.O.S. Família, escrita semanalmente pela psicóloga Rosely Sayão.

(3) Para distinguir o discurso social e os especialistas particulares à configuração social atual utilizar-se-á tais termos entre aspas.

(4) Uma das principais distinções assenta-se no fato de que o discurso científico-especializado apropria-se de um saber científico e o veicula, sobretudo, entre pares, detentores deste mesmo saber especializado. Já o “discurso dos especialistas da subjetividade” simplifica e dilui o saber científico e especializado, veiculando um simulacro do saber para o grande público. Ele é enunciado por meio de diferentes mídias a pessoas anônimas que não detêm esse saber. São discursos que coexistem atualmente e suas diferenças serão deslindadas adiante.

(5) Na pesquisa desenvolvida no mestrado, entre 2004 e 2006, as produções da psicóloga Rosely Sayão, da mestre em Educação e filósofa Tania Zagury e do psiquiatra Içami Tiba formaram o corpus da análise. Na reflexão ora apresentada, foram mencionadas sobretudo as falas e os escritos de Sayão, haja vista sua representatividade no métier dos “especialistas da subjetividade”. Sua produção permite evidenciar alguns traços gerais a respeito da atuação desses profissionais.

(6) Faz-se necessário aqui recorrer à noção de campo de Pierre Bourdieu. Tal noção, diz ele, “tinha em vista explicar: na realidade, as lutas que têm lugar no campo intelectual têm poder simbólico como coisa em jogo, quer dizer, o que nelas está em jogo é o poder sobre um uso particular de uma categoria particular de sinais e, deste modo, sobre a visão e o sentido do mundo natural e social” (BOURDIEU, 1989: 72). E ainda “o campo literário (etc.) é um campo de forças a agir sobre todos aqueles que entram nele, e de maneira diferencial segundo a posição que aí ocupam hoje [...], ao mesmo tempo que um campo de lutas de concorrência que tendem a conservar ou a transformar esse campo de forças” (Idem., 2002: 262-3).

(7) A demanda por ajuda não é somente formulada por adultos, mas também por crianças. Em sua coluna, Sayão reproduziu o trecho de uma carta de um pequeno leitor: “Oi! Tenho 11 anos, li sua matéria no Folha Equilíbrio do dia 24 de abril – ‘Quando o bom senso é a melhor saída dos pais’ – e gostei muito. Minha mãe se encaixa no bom senso. Gostaria de ler sobre competir em tudo com irmãos caçulas. Como devo agir? Como meus pais devem proceder quando presenciam brigas entre nós?” (SAYÃO, FSP, 08/05/2003).

(8) O bate-papo foi reproduzido tal como transcrito no site Uol News, excetuando-se algumas correções ortográficas.

(9) Na introdução de Como Educar Meu Filho? (2003), ao mencionar o papel que busca desempenhar, a psicóloga trata dessa ajuda não tão direta: “Este tem sido meu trabalho: refletir, duvidar, tornar mais complexas determinadas situações e simplificar outras – aparentemente tão complicadas –, além de socializar meus conhecimentos sobre o assunto [...] Espero que as idéias aqui reunidas sejam transformadas pelo leitor considerando a realidade em que vive [...]” (SAYÃO, 2003: 12-13, grifos meus).

(10) O trecho que evidencia esta aproximação entre “especialista” e o público leitor é o seguinte: “[...] Pensei que o fato de estudar educação e ser psicóloga me ajudaria no ofício de mãe. Qual o quê! A educadora e psicóloga só me tomavam depois que as crianças estavam dormindo e, assim, só me permitia que eu soubesse tudo de errado que havia feito durante o dia, como qualquer mãe. Mas, tanto eles quanto eu conseguimos superar muitos de meus enganos e equívocos e, assim, eles se tornaram pessoas de bem. Tenho o maior orgulho de meus filhos; foi na relação com eles que aprendi a ser mãe e os ensinei a serem filhos” (post, 19/03/2006).

(11) Em relação à trajetória profissional de Rosely Sayão, ela já foi professora universitária e abandonou essa carreira quando começou a escrever em jornais: diariamente em Notícias Populares (1989-2001) e semanalmente na Folha de S.Paulo (desde 1993). Ainda que as falas e escritos da psicóloga não partam de uma instituição de ensino, ela busca associar sua imagem à academia. Sayão escreveu dois livros com o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, Julio Groppa Aquino, Em Defesa da Escola (2004) e Família: Modos de Usar (2006). São produções que aproximaram o professor da USP do grande público – e não que levaram Sayão à discussão acadêmica. O texto publicado no blog de Sayão, “O potencial dos mais novos” (11/08/2006), mostra o deslocamento de Aquino entre diferentes campos de atuação: junto com a psicóloga, participou de um congresso para discutir com pais – e não com membros da academia – o último livro da dupla. No entanto, essas produções conjuntas evidenciam que, mesmo não fazendo parte do universo acadêmico, a psicóloga tece laços e, em alguma medida, aproxima-se dele aos olhos do grande público.

(12) Vale lembrar, tendo como referencia o ano de 2006, sua circulação e frequente exposição na mídia: na televisão (semanalmente em um telejornal do canal aberto Rede 21, em um episódio de Mothern, seriado brasileiro exibido pelo GNT, canal da TV a cabo); mensalmente na revista Crescer; no jornal Folha de S. Paulo às quintas-feiras; na internet (em chats, às terças-feiras, do UOL Teen Sexo e do UOL News, em seu blog às segundas, quartas e sextas-feiras); na rádio (na Band News FM, de segunda à sexta-feira, em três horários diferentes, para todo o Brasil).

(13) O caso do psiquiatra Içami Tiba é notório: até 2006, proferiu mais de 3.200 palestras para escolas, empresas nacionais e multinacionais, no Brasil e em outros países (Itália, Argentina, Espanha, Portugal, Inglaterra, Hungria, Grécia e Estados Unidos); publicou 19 livros, sendo alguns deles editados também em Portugal, Espanha e Itália, e vendeu mais de 1,5 milhão de exemplares (Disponível em: . Acesso em: 27/11/2006). Para os dados referentes às produções de Tania Zagury e de Rosely Sayão, ver Volpe (2007).

(14) Para esta reflexão, ver Bourdieu (1997).

(15) Mesmo quando os “especialistas” respondem a indagações de determinado pai ou mãe, nas interações diretas, suas formulações são postas de maneira generalizante, podendo ser seguidas por outros educadores, em diferentes situações.

(16)Para algumas dessas informações, ver nota 13.

 

Bibliografia

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Bourdieu Pierre (1989). «A gênese dos conceitos de habitus e de campo». In ______. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.

______ (1997). Sobre a Televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

______ (2002). «O ponto de vista do autor». In______. As Regras da Arte: gênese e estrutura do campo literário (1992). São Paulo: Companhia da Letras.

Costa Jurandir Freire (1999). Ordem Médica e Norma Familiar (1979). Rio de Janeiro: Edições Graal.

Horkheimer Max (1976). Eclipse da Razão. Rio de Janeiro: Labor do Brasil.

Lasch Christopher (1983). A Cultura do Narcisismo: A vida americana numa era de esperanças em declínio (1979). Rio de Janeiro: Editora Imago.

Lefort Claude (1977). «Maintenant». Libre, n°1: 03-28. Paris: Payot.

______ (1979). «Esboço de uma gênese da ideologia nas sociedades modernas» (1949). In ______. As Formas da História. São Paulo: Brasiliense.

Sayão Rosely, Aquino Julio Groppa (2004). Em Defesa da Escola. Campinas: Papirus.

______ (2006). Família: Modos de Usar. Campinas: Papirus.

Sayão Rosely. «Para educar é necessário ser impopular». Folha de S.Paulo. São Paulo, 03/08/2000. Equilíbrio.

______.«Saída ética para educador reclamão». Folha de S.Paulo. São Paulo, 19/09/2002. Equilíbrio.

______ (2003). Como Educar Meu Filho? Princípios e desafios da educação de crianças e de adolescentes hoje. São Paulo: Publifolha.

______.«Leitor de 11 pede dicas para dar aos pais». Folha de S.Paulo. São Paulo, 08/05/2003. Equilíbrio.

______.«Quem é Rosely Sayão». Blog da Rosely Sayão. 19/03/2006. Disponível em: [URL:  <http://blogdaroselysayao.blog.uol.com.br/arch2006-03-16_2006-03-31.html>. Acesso em: 26/03/2010]

______.«Separação de pais e filhos». Folha de S.Paulo. São Paulo, 06/07/2006. Equilíbrio.

______. «O potencial dos mais novos». Blog da Rosely Sayão. 11/08/2006. Disponível em: . Acesso em: 26/03/2010.

Tiba Içami. Disponível em: . Acesso em: 27/11/2006. Uol News. Momento Família. 18/04/2006. Disponível em: [URL: <http://noticias.uol.com.br/uolnews/familia/2006/04/18/ult2866u131.jhtm>. Acesso em: 26/03/2010]

Volpe Maíra Muhringer (2007). S.O.S. Família e Escola: Um estudo sobre a mediação dos «especialistas da subjetividade» no processo educativo. Dissertação de mestrado. São Paulo, Univseridade de São Paulo, Departamento de Sociologia/FFLCH. Disponível em: [URL: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8132/tde-12032010-135835/pt-br.php . Acesso em: 15/8/2010]

 

Para citar este artículo:

Muhringer Volpe Maira, «'Ajuda S.A.' : a profissionalização do 'especialista da subjetividade' pela mídia », RITA, N°4 : diciembre 2010, (en línea), puesto en línea el 10 de diciembre de 2010. Disponible en línea http://www.revue-rita.com/notes-de-recherche-60/ajuda-sa-a-profissionalizacao.html