Os primeiros registros de deslocamento no interior da Amazônia datam do século XVI. Motivados pela descoberta de um novo espaço, estes viajantes oferecem um testemunho rico em detalhes que revelam um mundo de lendas e mistérios...
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Terence Keller Andrade
Doctorant en géographie, aménagement et urbanisme
IHEAL/Paris III
Pery Teixeira
Alexandre Rivas
Agradecemos à FINEP e à Petrobras pelo apoio financeiro recebido, por meio do Projeto PIATAM.
Pensar a Amazônia hoje nos conduz automaticamente a alguns superlativos. Uma imensa floresta, habitada por uma alta sociobiodiversidade e drenada por um vasto sistema fluvial. Características que fazem deste lugar uma particularidade, justificando o deslocamento do sujeito viajante para fora dos seus territórios do cotidiano. A fabricação deste exotismo coloca o homem no centro das análises. Introduzindo os sentidos e mesmo as práticas das primeiras viagens neste ecossistema nos parece um importante caminho para estabelecer as bases de uma discussão a respeito da turistificação amazônica.
Desta forma, o presente artigo visa trabalhar dois aspectos importantes do processo de construção de uma Amazônia turística. O primeiro relacionado à compreensão do olhar para o novo mundo das águas. É possível pensar a invenção amazônica como um dos primeiros elementos para turistificar a floresta? Se do primeiro contato nascem os superlativos, os mitos e a hostilidade dos seus habitantes, a popularidade desta descoberta irá atrair novos aventureiros e valores para um espaço a ser posteriormente inventado a uma atividade tipicamente contemporânea. Em seguida, aproximando de um questionamento a respeito da motivação e da prática, o que faz de uma floresta longínqua, perigosa e desconhecida um ícone mundial a ponto de suscitar o desenvolvimento da mobilidade à fins turísticos? A busca do exotismo, a ruptura do sedentarismo ou mesmo a necessidade de se dirigir rumo ao outro seriam hipóteses para esta reflexão?
Privilegiando compreender a forma e o conteúdo das primeiras mobilidades européias neste ambiente, tentaremos colocar em evidência a construção de uma imagem amazônica que se juntará a um contexto de lugares exóticos do planeta. Seguindo alguns relatos mais singulares feitos pelos primeiros viajantes neste ambiente, um dos focos deste artigo estarão centrado na busca de elementos que permitam compreender o fascínio que a floresta das Amazonas exercia (e ainda exerce) na mente dos curiosos. Com o desenvolvimento da prática da viagem neste ambiente tropical, novos elementos físicos e valores serão inseridos no interior da floresta, ilustrando o processo de construção dos espaços turísticos amazônicos. Compreender como as viagens influenciavam a prática desta mobilidade será, portanto o foco deste artigo.
Situado em um tempo cronológico mais próximo da ocidentalização do novo mundo, partiremos assim de um marco histórico. O efeito da descoberta das Américas de Cristóvão Colombo. Símbolo de uma aventura que se concretiza por acaso e que abrirá as portas para as primeiras incursões na maior floresta tropical do mundo. De um espaço virgem, imensurável, longínquo e desconhecido até as primeiras práticas com fins turísticos, esta será a escala temporal que utilizaremos para dar sentido ao nosso raciocínio. Para isto, uma abordagem nas pesquisas geohistóricas, biográficas e etnográficas nos parece um importante caminho a seguir. Utilizando autores como Berta Ribeiro, Geraldo Coelho, Marco Magalhães, Edouard Charton, Martine Droulers, Antoine Lefebure, France Marie Renard-Casevitz e Auguste-François Biard dentre outros, tentaremos encontrar elementos pertinentes à fundamentação da nossa análise.
Tentaremos assim, colocar em evidência a formação de algumas práticas turísticas nos espaços amazônicos. Para isto nos apoiaremos no processo de construção do exotismo, nas definições territoriais, nos questionamentos científicos, chegando aos relatos de uma viagem que revelava os primeiros passos de uma mobilidade turística neste ambiente. Entre múltiplas formas e distintos interesses estas viagens se propagavam. Com o objetivo de compreender o processo de turistificação amazônica, fundamentaremos nossa análise no sentido geohistórico da invenção do turismo na maior floresta tropical brasileira e ao mesmo tempo apresentar os limites físicos desta criação no desenvolvimento do próprio fenômeno.
I. O processo de produção de uma prática turística Amazônica. As primeiras viagens na fabricação de um exotismo.
As primeiras concepções da Amazônia como destino de viagens estão ligadas à descoberta de um novo espaço. Elas estão manifestadas tanto na ausência de fronteiras que definem os territórios luso/hispânicos do século XVI, quanto no conhecimento de diferentes lugares e culturas. Recheadas de imaginários, mitos e realidades estas viagens permitiam demonstrar ora a diversidade, ora a coesão existente entre os mais diversos grupos sociais, possibilitando localizar e universalizar as particularidades existentes. O contato com o "Novo Mundo" criou um novo sentido para as viagens européias. Os inventários de bordo realizados pelos viajantes do século XVI exercia um papel de apresentar uma nova realidade observada para a sociedade ocidental. Fruto de uma prática antiga e bastante comum na Europa, o mitologismo aqui revelado encontrava um novo terreno para representar uma linguagem da cultura, uma lógica para dar ordem aos fatos observados.
As viagens de descoberta da Amazônia retratam esta noção. Os espanhóis foram os primeiros europeus a navegarem na foz do rio Amazonas, entrada natural para a floresta tropical sul-americana. Este fato se deu por volta do ano 1500 a partir das incursões em busca de novas rotas de comércio. Não se sabe ao certo se foi Américo Vespúcio, como crêem alguns, ou se foi Vincente Yanes Pinzón, como é majoritariamente aceito (Rezende, 2006, apud Goés Filho, 2001). Porém, curiosamente a descoberta da floresta amazônica se deu a partir da viagem de Francisco de Orellana (1500?-1545) iniciada nos Andes peruanos e não da foz, como seria a via de mais fácil acesso. Neste sentido, o navegador espanhol comandou uma tropa composta por 57 homens que percorreu mais de 6000 km ao longo do rio Amazonas durante dezembro de 1541 a julho de 1542.
Sua viagem representou um feito notável para a época. Os registros da experiência vivida no Novo Mundo teve uma forte repercussão na Europa. O grande rio Amazonas era assim o mar Dulce, um espantoso oceano de água doce e abrigo de criaturas como as do mar salgado (Coelho, 2008). Suas cartas diziam entre muitas outras coisas imaginárias, a presença de mulheres que combatiam em guerra, viviam sem parceiro sob o comando de outra mulher, não possuíam ambos os peitos e não cuidavam de seus filhos, mas entregavam-nos aos pais. (Rezende, 2006).
A narrativa do escrivão Frei Gaspar de Carvajal retrata a hostilidade do primeiro encontro. Durante uma tentativa de aprovisionar os barcos com caça e pesca, o capitão Orelhada ordenou a invasão de uma tribo indígena próxima a foz do rio Nhamundá, afluente do Rio Amazonas, na atual divisa entre o Estado de mesmo nome e o Pará. Esta tentativa, realizada em 22 de junho de 1541 ( Pinto, 2002) surpreendeu a expedição visto que uma tribo composta tanto por homens quanto por mulheres impediram a ação dos espanhóis, o que provocou a perda do olho esquerdo de Carvajal.
A própria tropa comandada por Orelhana remarcava que os guerreiros nativos eram
"Súditos e tributários das Amazonas. (...) e logo chegaram dez ou doze delas, que vimos nós mesmos combatendo à frente de todos esses índios, como capitães, e elas combatiam com tanto ardor que os índios não ousaram recuar e, aqueles que o faziam, elas os matavam a golpes de bastão diante de nós..." (Coelho, 2008, p.69).
Os relatos de Frei Carvajal impressionam não só os europeus da época, quanto os leitores atuais. Em suas descrições as nativas possuíam cabelos longos, eram brancas e altas o que remete a um tipo diferente da população amazônica, reforçando assim a presença do mito e talvez de uma imagem idealizada da guerreira[1].
A palavra grega a-mazón (sem seios) passou a ser referida para identificar este grupo indígena que não se sabe ao certo se de fato existiu ou se na realidade eram homens com cabelos longos. A descoberta amazônica representa assim o início de um novo sentido para justificar o deslocamento do sujeito viajante no interior de suas particularidades. Um espaço sem dimensões, desconhecido e misterioso, descritos por superlativos da fauna, flora, rede hidrográfica e principalmente pelo lado primitivo dos seus habitantes. Tal curiosidade redirecionou tanto os olhares, quanto às crenças e as práticas daqueles que se encontravam na postura de revelador do novo mundo.
Os relatos produzidos por estes primeiros viajantes retratavam visões repletas de contradições. Uma natureza bela e hostil, sem dimensões e controlável, habitada por populações diversas e coesas. Tal oposição encontrava a mitologia como forma de ordenar os fatos observados. A narrativa da selvageria dos seus habitantes direciona o homem amazônico para o centro das observações, destacando sempre a condição de superioridade dos visitantes face aos visitados.
Porém a aparição deste mito na floresta tropical do novo mundo não ilustrava uma originalidade para a sociedade européia da época. Pelo contrário, a mitologia das mulheres guerreiras já se apresentava na história em forma de sociedades onde as mulheres possuíam uma certa independência em relação aos homens. Estão relacionados a mitos bastante conhecido na Grécia desde o Heródoto do século VI a.c. onde guerreiras combatiam às margens do rio Thermodon próximo ao mar Negro ou mesmo durante a guerra de Tróia.
A respeito desta produção, André Thevet (1502-1590) tem um ponto de vista interessante. Este escritor e explorador francês participou de várias expedições em diferentes lugares remotos do globo, tais como Itália, Creta, ilhas do mar Egeu, Constantinopla, Egito, Palestina e finalmente no recém descoberto Brasil. De retorno a França ele declara que as "Amazonas das Américas" iria se juntar as "Amazonas da África", as "Amazonas de Scythie" e finalmente as "Amazonas de Thermodon" localizadas na Asia. Sendo assim, cada continente possuía suas Amazonas.
As Amazonas, guerreiras míticas da floresta, são pretextos para charmosas iconografias populares. Aqui, em uma caixa de chocolate do século XIX, vendidas na Inglaterra
Source : Lefebure, 2005
Segundo Frank Lestringant, atual professor de literatura francesa da Universidade de Paris IV, o mito das Amazonas da América, representa na realidade uma lenda importada pelos conquistadores e que se encontrava confirmada pelas crenças das populações autóctones.
«Integradas na categoria do saber antigo e assumidas como tais de uma ciência imortal, as Amazonas do Brasil reproduzem este movimento contraditório de distinção e identificação, de exilo tenebroso e de vizinhança inquieta. Nesta nova pseudomorfose, desenvolvida simultaneamente no plano da estética, da ética e da epistemologia, que o mito das mulheres arqueiras vai duravelmente se incarnar nas indias da floresta tropical" (Lestringant, 1991, pp. 114-120).
O novo mundo amazônico se insere assim em um contexto de lugares exóticos, ícones de pontos extremos dos quatro continentes. O imaginário de contos e verdades transportados por estes navegadores serviram para atiçar a atenção sobre esta nova descoberta e a criação de um mito amazônico recheados de ficção e realidade. Um lugar onde o fantástico e o maravilhoso se misturam e fazem parte do cotidiano e do diário de bordo destes exploradores. A literatura destas viagens é extremamente rica, diversificada e fascinante o que exerce uma forte influência na representação do espaço.
O desenvolvimento destas viagens está centrado essencialmente na popularização da invenção desta Amazônia. Uma particularidade que atraia os europeus para uma prática da mobilidade em um lugar fora do cotidiano, seguindo o desejo de revelar a descoberta e estabelecer os primeiros contatos com as populações nativas. Independente da fantasia ou da veracidade dos fatos, as Amazonas tornavam uma figura forte, representativa e imponente, criada pelo olhar estrangeiro. Uma iconografia misteriosa, exótica e fascinante da floresta e que a caracteriza ainda no nosso cotidiano.
Com relação à palavra exotismo, ela aparece pela primeira vez em 1845 (Maigne, 1985) tendo um sentido representado por dois pólos. O objetivo, ligado à qualidade de um objeto, e subjetivo relacionado ao olhar de um sujeito. Um questionamento de uma distância do "aqui" com relação ao "ali". Assim ele é freqüentemente visto como o interesse pelos bens materiais e imateriais que pertencem a outros povos geograficamente e culturalmente distantes e sempre construído em relação à posição ocupada pelo sujeito que a revela. Uma noção que se insere, segundo Maigne (1985) na busca de uma alteridade.
A fabricação deste exotismo permitiu inserir a Amazônia no imaginário dos aventureiros. Porém o despertar para suas particularidades presumia interesses econômicos e políticos das nações européias. Para ampliar o domínio sobre os territórios ao sul do equador, é necessário incentivar as viagens de descoberta, limitando assim a livre escolha dos viajantes para o ato de viajar. Mesmo que possam ter ocorrido motivações espontâneas, torna-se prematuro pensá-los como uma prática turística, mas sim na criação do processo de uma prática da mobilidade a fins turísticos na Amazônia.
A descoberta e a revelação dos mitos amazônicos influenciaram na vinda de um número considerável de viajantes para compreender e explorar este exótico. Eram comum, a partir do século XVI, embarcações navegando no interior da floresta portando bandeiras de diferentes países e a presença de aventureiros originários principalmente da Inglaterra, França e Holanda. Muitos deles realizando a pesca do bacalhau do peixe-boi, estabelecendo contato com os indígenas e conhecendo produtos exóticos, tais como plantas secas, plumas, cascas e tabaco, o que despertava o interesse comercial.
Oficialmente os espanhóis realizaram 22 expedições entre os anos de 1500 a 1570 na Amazônia. Isto demonstrava um certo interesse deste império na conquista da floresta e em vigorar a partilha das terras proposta pelo papa Alexandre VI[2]. Porém nem só as bandeiras hispânicas tentaram se erguer na floresta das Amazonas. Segundo o historiador Hideraldo Lima da Costa[3], entre os anos de 1542 a 1616 houveram sete investidas por parte dos franceses, oito pela coroa inglesa e cinco pelo império holandês. Talvez a presença massiva de tropas hispânicas na Amazônia no primeiro século após sua descoberta reforce a tese de criação do mito de uma natureza hostil como estratégia para inibir a presença de outras nações e garantir território para a coroa espanhola. Deste modo à conquista deste ambiente pelos portugueses não foi um processo simples.
II. As estratégias territoriais das primeiras viagens de reconhecimento
Orientado pelo interesse em garantir a posse do território, e ainda dispor de mão-de-obra indígena, a coroa portuguesa realizou algumas expedições na floresta revelando assim um enorme desafio: ocupar, com um número limitado de homens, um vasto espaço, se adaptando as formas e as dimensões do continente sul americano (Droulers, 2001). Este fato, como apresenta a geógrafa Martine Droulers representa um dos grandes desafios da geografia colonial, exigindo a adoção de distintas táticas por parte dos colonizadores lusos. Transpor as dificuldades de uma natureza hostil na definição dos limites espaciais exigia tanto a prática de demarcar o espaço, através de estabelecimentos de fronteiras físicas e reconhecimento cartográfico, quanto expulsar os estrangeiros e fidelizar as populações ali existentes. Práticas que foram confiadas a um grupo seleto de viajantes.
O capitão-mor Pedro Teixeira (1587-1641) era um destes. Enviado pelo governador do Maranhão, Jacomo Raimundo Noronha, com a missão de reconhecimento do Rio Amazonas até a cidade de Quito no Equador, Teixeira dá início a sua viagem em outubro de 1637 com 47 barcos, 70 portugueses e mamelucos e 1100 índios (Droulers, 2001, p. 65). Um dos focos destas viagens era a verificação dos pontos mais estratégicos para a implantação de fortificações, abertura de estradas e fundação de povoados que marcassem as fronteiras da floresta tropical portuguesa e espanhola, garantindo assim uma apropriação territorial. Os dez meses de viagens entre Belém/Quito/Belém de Pedro Teixeira conseguiram assegurar aos portugueses a posse da maior parte da região amazônica e praticamente todo o curso principal do rio.
Uma outra expedição que permitiu não só a expansão das fronteiras brasileiras, mas também o título de ser a maior expedição de reconhecimento geográfico realizada no Brasil foi à expedição conduzida por Raposo Tavares (1598-1658) entre 1648 e 1651. Esta viagem de descoberta tinha como objetivo oficial à identificação de minas de metais preciosos. Porém secretamente conhecer melhor o Brasil e seus limites com as colônias espanholas. Sua expedição chamada de bandeira de limites[4] percorreu 10.000 km partindo de São Paulo, passando pelos rios Paraguai, Mamoré, Madeira e chegando finalmente ao Rio Amazonas.
Francisco Palheta (1670-?) também foi outro viajante que contribuiu para a formação do território das Amazonas. Militar brasileiro, natural de Belém do Pará, Palheta cumpria bastante a figura de um diplomata. Responsável por abrir as relações comerciais com o Alto Peru (Droulers, 2001), ele navega pelos rios Amazonas, Madeira e Guaporé por volta de 1720 e reivindica a posse destes cursos d'água, bloqueando em paralelo as expansões das missões espanholas. Francisco Palheta foi também enviado para a Guiana Francesa pelo Governador do Estado do Maranhão João da Maia da Gama (1722 a 1728) com o objetivo de fazer vigorar o Tratado de Utrecht[5].
O mapa abaixo foi elaborado com base em pesquisas levantadas de um lado por Martine Droulers e de outro através das informações coletadas por Tadeu Valdir de Rezende[6], no estudo da formação do território brasileiro. Convém ressaltar que os limites estabelecidos entre os países sul americanos e o conceito de Amazônia Legal, não obedecem a mesma dimensão temporal das primeiras viagens portuguesas neste ecossistema. O foco de ter associado diferentes tempos em um mesmo plano cartesiano representa uma tentativa de visualizar o papel destas expedições na formação territorial do Brasil, juntamente com a criação das primeiras cidades e mais recentemente dos lugares turísticos amazônicos.
Algumas viagens e incursões portuguesas realizadas na Amazônia entre os séculos XVI e XIX:
Mapa feito à partir da World WorldSat Color Shaded Relief Image que representa um mosaico de várias cenas de 1996 colhidas pelo satélite americano NOAA. Conforme apresentado, as bandeiras de preação foram executadas por 1 - Antônio Raposo Tavares, André Fernandes e Fernão Dias Pais (1635-1637); 2 - Fernão Dias Pais (1638); 3 - Manoel Preto e Antônio Raposo Tavares (1628 - 1633); 4 - Antônio Raposo Tavares (1648 - 1651); 5 - Ascenso Ribeiro e André Fernandes (1632 - 1633); 6 - Manoel de Campos Bicudo (1673); 7 - Luis Castanho de Almeida (1671); 8 - Bartolomeu Bueno de Siqueira (1670); 9 - Matias Cardoso de Almeida (1689 - 1698); 10 - Manoel Alvares de Morais Navarro (1689 - 1698); 11 - Domingos Jorge Velho (1671 - 1674).
Fonte: Composição própria
Se de um lado os mitos incentivavam a descoberta do novo mundo, a mobilidade dos viajantes revelavam as particularidades amazônicas. As estratégias de conquistar novos mercados transfere às viagens o poder revelador dos interesses das nações européias face à descoberta. Das definições geopolíticas, surgem os primeiros pontos físicos. A medida que as fortificações e as cidades eram implementadas na Amazônia, os nós essenciais da rede hidrográfica se estabelecia, favorecendo uma abertura para o mundo. Os caminhos se consolidavam e as diferentes práticas espaciais orientavam e estimulavam o fluxo de bens e pessoas no interior da floresta.
O ponto crucial destas viagens está no início de uma mudança de paradigma, entre duas visões do mundo. De um lado a manutenção dos antigos mitos herdados das viagens ibéricas e de outro a abertura para o questionamento a respeito da realidade observada e imaginada. Tal como retratado pelo historiador Geraldo Coelho (2008), o impacto destas viagens repercutiu não só na mudança de olhar da sociedade européia para a descoberta de um novo mundo, mas criou uma nova forma de interpretá-lo, influenciando mais tarde a vinda de viagens a fins científicos.
Atualmente existe catalogado no Brasil 460 fortificações [7], sendo que 22% delas estão localizadas na Amazônia legal. O Estado do Pará é responsável por 43 e o Amazonas responde por nove. Grande parte destas estruturas se perderam ou estão em ruínas. Outras, que eram anteriormente utilizadas para a defesa das possessões portuguesas, serão os elementos de base para uma apropriação pela atividade turística no século XX. A Fortaleza de São José do Macapá ou mesmo o Forte do Castelo do Senhor Santo Cristo do Presépio de Belém são exemplos da mudança de utilização destes lugares na escala Amazônica.
Além da inserção dos elementos físicos, a conexão entre os diferentes pontos serão igualmente objetos de uma descoberta turística. A evolução da relação do homem com os rios amazônicos irão influenciar na forma de praticar estas viagens. Como veremos mais tarde muitos destes percursos fluviais se tornam mecanismos da mobilidade a fins turísticos ainda no século XIX e essencialmente a partir do século XX, como é o caso dos cruzeiros marítimos/fluviais que conectam o interior da floresta com os principais centros emissores de turistas mundiais.
Com o movimento das luzes na Europa a Amazônia se abria a uma nova forma de conquista que não era militar. Com a crise científica existente no velho mundo, somada à freqüente presença de estrangeiros na Amazônia e principalmente com o desconhecimento das potencialidades de suas possessões, a coroa portuguesa passou a incentivar uma nova mobilidade nos espaços ultramarinos. Neste contexto uma equipe mista, composta por cientistas, engenheiros-cartográficos, médicos e naturalistas começou a ser utilizada com a função de demarcação de fronteiras, produção cartográfica e levantamento científico da fauna, flora, hábitos religiosos e as culturas a serem exploradas. Estas viagens ficaram conhecidas na época como viagens filosóficas.
Sua origem em Portugal adveio em 1778 através do Ministro Ultramar e Marinha, Martinho de Melo e Castro. A idéia de organizar e financiar tais viagens tinha objetivos de estudar os minérios, a fauna e flora e os grupos sociais encontrados no novo mundo amazônico. Estas viagens representavam assim o contexto das nações colonizadoras européiais em conhecer as potencialidades de suas colônias[8].
Um ator chave para a definição das viagens filosóficas em Portugal foi o italiano Domenico Agostino Vandelli que se tornou professor da Universidade de Coimbra em 1765. Uma de suas preocupações era o estabelecimento de uma "história natural das colônias" através de viagens científicas realizadas por naturalistas formados por sua universidade. Assim, os inventários do mundo natural passaram a ser um documento estratégico para as intenções da coroa na época.
Um dos frutos destas viagens foi o estabelecimento de um complexo museológico junto ao palácio Real de Ajuda em Portugal. Este projeto baseava-se em um inventário dos produtos naturais visando o desenvolvimento científico, avaliar as potencialidades econômicas de suas possessões e fazer observações sobre o funcionamento terrestre através dos elementos terra, ar e água. Assim, vários exemplares vegetais e animais encontradas nas colônias portuguesas[9] eram transportadas para a metrópole e vice-versa, numa estratégia de aclimatação e adaptação das espécies.
Domingos Vandelli, baseado em diversos exemplos e situações ocorridas com viajantes passados cria o manuscrito Viagens filosóficas ou Dissertação sobre as importantes regras que o filósofo naturalista, nas suas peregrinações deve principalmente observar"(Figueirôa, 2004). Esta espécie de manual de conduta apresentava situações detalhadas, sobre o que o naturalista deveria procurar e perceber, durante sua viagem no interior das colônias portuguesas.
As viagens filosóficas permitiam assim inserir novas formas de ver, pensar e agir nos espaços amazônicos. A tentativa de reproduzir uma mesma natureza em diferentes espaços geográficos simboliza uma forma de universalizar os lugares e ao mesmo tempo conhecer seus limites de adaptação. A expectativa de criar museus e jardins botânicos com espécies típicas de outros ambientes deu origem a um guia de orientação à prática da viagem na floresta das Amazonas.
Seguindo este manual e com a missão de executar os planos de realização de uma história natural das colônias, o naturalista baiano Alexandre Rodrigues Ferreira iniciou suas pesquisas na Amazônia em 1783. Partindo de Belém ele navegou até o Rio Negro e o Rio Branco, depois se dirigiu para o Rio Madeira chegando nos arredores da atual cidade de Cuiabá.
As penetrações lusas pelos rios amazônicos revelavam a existência de uma diversificada fauna e flora, diversos grupos indígenas e uma complexa rede hidrográfica. Esta viagem imortalizada no livro Viagem filosófica ao rio Negro (1732-1792) representa um inventário realizado por Alexandre Ferreira a respeito das potencialidades econômicas a serem exploradas pela metrópole na região (Costa, 2008). Um dos relatos feitos pelo explorador brasileiro permitiu demonstrar talvez uma das primeiras preocupações conservacionistas na Amazônia. Sua sensibilidade face à chacina do peixe-boi e o extermínio de tartarugas adultas e de seus ninhos demonstrava sua indignação com a brutalidade cometida pelos moradores locais.
"... apesar de tanta utilidade obtidas a partir deste animal, sua pesca não tem nenhum policiamento... Não há distinção de idade, porque, pequenos ou grandes, todos são arpoados. Por isso nenhuma admiração há de causar sua raridade em alguns lagos, onde a muitos anos era abundante". (Daly, 2001, p. 40)
Pesca do peixe-boi (Trichechus inunguis)
Source: RIBEIRO, 1990
As doenças tropicais eram um fato que influenciava bastante no ritmo das viagens. Segundo uma pesquisa realizada por Douglas Daly (2001), os viajantes traziam apenas os medicamentos usados na Europa, desconhecendo as doenças tropicais. Este fato forçava Alexandre Ferreira a utilizar os remédios tradicionalmente utilizados pelos moradores locais, tais como o óleo de Copaíba[10], por exemplo. Como resultado elaborou um primeiro registro das plantas tradicionalmente utilizadas na região, compondo assim o chamado Pharmacopeia brasiliense (Daly, 2001, p. 35).
Sua viagem de regresso, por volta de 1792, permitiu o transporte de um rico acervo composto de amostras de ervas, espécimes, aquarelas, monografias descritivas da região que explorou e artefatos dos seus habitantes. Durante nove anos Alexandre Rodrigues percorreu cerca de 39.000 km entre as capitanias do Grão-Pará, São José do Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá. Ele mapeou postos militares, confluência de rios e a localização das missões (Daly, 2001). A expedição de Alexandre foi o maior empreendimento científico realizado no Brasil durante o período colonial e pode ser comparada, pelo esforço despendido em prol das ciências naturais, às viagens realizadas por Louis Antoine de Bougainville, James Cook, Charles Marie de la Condamine e Alexander Von Humboldt.
O sentimento nacionalista dos Portugueses influenciava em muito as relações diplomáticas entre as demais nações colonizadoras. Hideraldo da Costa (2008) chama a atenção justamente na possibilidade de realização destas viagens científicas. Para que muitas delas pudessem se desenvolver, era necessária autorização de Portugal e/ou da Espanha. Caso contrário o fechamento das fronteiras seria inevitável. Este fato foi presenciado pelo cancelamento das viagens jesuíticas[11]. Acusados de criar um reino dentro do reino, os jesuítas são expulsos do Brasil em 1759 (Lefébure, 2005, p. 85).
As viagens filosóficas permitem tornar a Amazônia um campo de estudo obrigatório a todos os naturalistas que gostariam de participar dos debates científicos da época. A representatividade que a floresta tropical exercia no meio intelectual atraia a atenção de uma elite cultural que representava não só o desenvolvimento da ciência, mas também os anseios das nações e instituições que financiavam estas pesquisas. Viajantes estes que compunham uma rede e que suas publicações desapertam também a motivação de várias pessoas pela natureza e pela cultura observada.
Tal como abordado, muitos destes naturalistas que vieram na Amazônia durante os três primeiros séculos de sua descoberta, eram experts de outras viagens exploratórias. Possuindo questionamentos e pertencentes a um grupo científico, eles organizavam suas viagens, baseadas não nos caminhos dos exploradores precedentes mas nos rastros destas investidas. Tais viagens eram programadas, arquitetadas, financiadas e seguia um certo espaço num dado tempo, freqüentemente longo. Um método que transferia ao naturalista o papel de testemunho do novo mundo e principalmente ator das transformações do ato de viajar.
As viagens científicas tinham um papel fundamental na transformação dos relatos míticos em inventários científicos. Uma postura que faz parte de um contexto europeu, transformando estas novas viagens em um confronto entre duas abordagens culturais. Uma lógica muito mais baseada no questionamento e racionalização dos elementos naturais e humanos, que na manutenção da figura dos mitos e é justamente isto que ultrapassa a percepção dos viajantes precedentes. A multiplicação das experiências naturalistas na Amazônia simboliza assim uma multiplicação do real, em oposição ao imaginado. Poderíamos considerar as viagens científicas amazônicas como um novo passo para uma mobilidade a fins turísticos?
A. Viagens filosóficas e o "the grand tour": uma possível semelhança?
Se a partir do século XVIII os espaços amazônicos se abriam a uma evolução das práticas da mobilidade científica, a Europa, em particular a Inglaterra, já antecipava a gênese da atividade turística. Ao mesmo tempo em que a coroa britânica financiava o deslocamento dos seus naturalistas na floresta das Amazonas a Europa ocidental tornava-se objeto de interesse de parte dos seus viajantes. Destinado à formação de uma elite aristocrática, o The Grand Tour acabou adquirindo um novo conceito de viagem européia. Fundado na estadia em cidades já conhecidas, ele permitia não só o desenvolvimento de uma cultura cosmopolita nos ingleses, mas as bases do início de uma economia ligada a esta mobilidade.
Certos historiadores britânicos defendem sua origem em 1700[12], atingindo seu auge no século XVIII. Uma invenção puramente inglesa a partir da apropriação de uma palavra francesa. Talvez a influência geográfica da Normandia tenha estimulado a utilização da palavra Tour por parte dos ingleses criando assim, pouco tempo mais tarde, o adjetivo tourist, para dar sentido a um novo conceito de viagem no século XIX.
Oriundo de uma crise da consciência européia (Hazard, 1961), o The Grand Tour representa uma nova idéia de deslocamento em oposição ao sedentarismo clássico que marcava a sociedade ocidental da época. Inicialmente restrito aos filhos de famílias ricas, estas viagens tinham objetivos educacionais, sobretudo aos jovens recém saídos de Oxford ou de Cambridge. Esses deveriam percorrer o mundo, ver como ele era governado e se preparar para ser um membro da classe dominante. Fazendo parte da sua educação, muitas vezes a rainha arcava com as despesas destas viagens (Feifer, 1986), tornando assim uma prática comum entre a aristocracia britânica. O The Grand Tour permitia à elite inglesa da época a junção de duas dimensões da viagem: o tempo de lazer e o tempo da instrução.
Normalmente enviado para a Europa do oeste, com escala em Roma, os jovens gentlemen [13] tornavam-se cidadões de um mundo cosmopolita, uma forma de transpor a insularidade das barreiras naturais que isolam a Inglaterra do continente europeu. Esta grande viagem era realizada na sua grande maioria por homens com idade média de 25 anos. Raras eram as mulheres que participavam. Existiam dois estágios; onde o primeiro era realizado na costa britânica e servia como uma espécie de treinamento para uma empreitada mais longa, que oscilava entre seis meses a dois anos.
Estas viagens tornam-se bastante conhecidas na Europa, ativando a motivação de outros jovens aristocratas do continente. Dotados de mesma preferência e ignorância estes viajantes se interessavam bastante pela antiguidade romana, pelas fábricas e moinhos, e principalmente no urbanismo clássico (Boyer, 1996). Vários guias de viagem são impressos neste período, apresentando aos viajantes o que deve ser visto durante os deslocamentos. E eles exerciam um poder representativo nas viagens. Segundo o relato do escritor francês Charles de Brosses, «Os ingleses são numerosos como formigas aqui. Eles gastam muito dinheiro. Grande parte deles passam o dia inteiro jogando sinuca e saem de Roma conhecendo somente ingleses e sem saber onde está o Coliseu» (Boyer, 1996, p. 33)
O The Grand Tour insere assim uma nova prática da mobilidade nos espaços europeus. De uma ruptura do sedentarismo à formação de uma elite intelectual dominante, estas viagens resultam do interesse em diminuir os enclaves naturais da ilha britânica e da busca do contato com o mundo do outro. Uma prática que se caracterizava normalmente no tempo curto e se concentrava em cidades já conhecidas da sociedade da época. Lugares estes dotados de uma certa estrutura física dos meios urbanos e que mais tarde desenvolverá uma economia ligada a esta nova mobilidade.
Alguns aspectos poderiam assemelhar às práticas do The Grand Tour às viagens naturalistas Amazônicas. Oposição ao sedentarismo, formação de uma elite intelectual, quebra do isolamento geográfico, contato com o outro mundo.... Porém, as práticas da mobilidade e o tempo dos naturalistas nos espaços amazônicos servirão de elementos para ilustrar as divergências. Se viajar na Amazônia do período dos naturalistas representava o contato com o exotismo da floresta e dos selvagens, poderiam estas práticas terem adquiridos a junção do tempo de lazer e do tempo de instrução ?
Os relatos das viagens naturalistas inserem elementos inevitáveis nestas viagens. A aventura, o prazer de uma descoberta e mesmo o fato de ser o pioneiro a vivenciar um determinado espaço geográfico. Porém não são suficientes para caracterizá-las como uma prática de lazer ou lúdica de acordo com o nosso ponto de vista. O ato de desenvendar o desconhecido amazônico pode ser compreendido como uma causa e/ou conseqüência destas viagens para comprovar os postulados científicos o que difere bastante das práticas dos ingleses do The Grand Tour.
As viagens destes grupos de naturalistas na Amazônia marca uma distinção com relação aos nobres ingleses. A primeira delas seria a prática, onde o desenvolvimento de questionamentos científicos são os pontos principais da mobilidade. Inúmeras publicações foram realizadas por estes naturalistas com temas ligados à geografia, astronomia e zoologia e estas publicações permitiam inseri-los em uma elite acadêmica. Para isto um tempo longo era preciso, o que poderia caracterizar estes deslocamentos como uma mobilidade quase migratória.
Entre outros o The Grand Tour permitia o desenvolvimento de uma rede de viagens turísticas na Europa, influenciando inclusive uma mudança de olhar nas práticas dos lugares. Foi justamente neste período que se desenvolvem as estações termais no século XVIII. Transformar uma tarefa do cotidiano num prazer mundano foi mesmo incentivado pelos médicos da época, como uma forma terapêutica de cura e um mecanismo de socialização da aristocracia reinante. Um modelo criado no interior do continente inglês a exemplo de Bath[14], remodelado pela balnearização marítima de Bringthon em 1750 (Boyer, 1996, p. 39) e exportado para outras localidades européias, como é o caso de Nice, no sul da França[15].
Realidade esta que não foi percebida na Amazônia. Portanto mesmo que as motivações fossem diferentes, as viagens científicas contribuíram bastante para a construção de uma cultura turística para este local durante um período em que a mobilidade à fins recreativos se consolidava na Europa.
Vários seriam os limites entre as práticas turísticas da mobilidade em espaços europeus à época do The Grand Tour e estas desenvolvidas na floresta amazônica durante o mesmo período. Porém se as viagens científicas amazônicas permitiam revelar as particularidades da floresta, a junção do tempo de lazer e instrução motivava a vinda e a descoberta amazônica para alguns viajantes pouco convencionais do século XIX. A viagem de Biard documentada no livro Deux années au Brésil permitem inserir outros elementos que justificam o aparecimento de novas práticas da mobilidade nos espaços amazônicos.
IV. François-Auguste Biard : A curiosidade pelos espaços amazônicos
Das viagens ao Brasil, resultam em termos matérias uma série de pinturas e imagens representativas das paisagens e dos personagens encontrados. Além disto, dois livros (Deux années au Brésil et Voyage au Brésil (Amazonie), este último publicado no jornal le Tour du Monde em 1861. Porém, além de toda a representatividade que Biard adquiriu após a publicação de suas obras, o que nos chama a atenção no relato de sua viagem está justamente centrado na prática da mobilidade e principalmente na relação que o artista exercia nos lugares visitados.
Biard, impressiona todo mundo quando decide partir ao Brasil com a idade aproximada de 60 anos. Sua escolha inquietava a sociedade francesa da época. As indagações demonstravam os clichês da destinação
"Meu caro amigo, por favor me diga de onde vem esta idéia de ir para o Brasil? É um país bastante entregue às doenças. A febre amarela está em permanência e garanto que existe serpentes tão venenosas que matam as pessoas em alguns minutos. Não vá ao Brasil. Me dizia um outro. Quem vai ao Brasil? As pessoas vão para o Brasil somente se forem nomeadas imperadores. Você foi nomeado imperador?" (Biard, 1959, p. 3).
Este pequeno trecho extraído dos primeiros parágrafos do livro de Biard demonstram de forma irônica uma imagem do Brasil que o caracterizava enquanto destinação. No decorrer das primeiras páginas é possível perceber os diversos ícones que recheavam o imaginário europeu a respeito da antiga colônia portuguesa. Os perigos de uma natureza selvagem, o clima adverso, selvagens maldosos, enfim o alto grau de exposição aos inúmeros acidentes que ele seria inevitavelmente vítima um dia. Embora justificada, as motivações iniciais de Biard na escolha do Brasil não deixam uma idéia muito precisa para os leitores.
O primeiro estaria ligado ao fato que ele deveria abandonar seu atelier. Situado no número 8 da praça de Vendôme, este local presenciou toda a vida do pintor. A cada uma de suas viagens, novos objetos compunham seu pequeno museu que era bastante freqüentado (Araújo, 2008) e que deixava o proprietário bastante fiel de sua evolução. Os projetos de aumentá-lo foram uma das causas que o obrigou a abandonar seu lugar do cotidiano, onde ele pensava ficar por toda sua vida.
O segundo motivo se deu em função de um encontro. Jantando com sua filha em um restaurante ele conhece um general belga que morava na Bahia. Este descreve as maravilhas de um pais encantado e o convida para passar alguns dias, fato que o ajudaria a esquecer os problemas que o artista estava vivenciando. Não foram necessários muitos argumentos para convencê-lo e em 1858 ele inicia sua viagem, partindo de Southampton, passando por Portugal e chegando primeiramente em Pernambuco.
A beleza da mulher negra é algo que chama a atenção do artista durante toda sua viagem. Ele passa parte do seu tempo visitando os lugares, realizando pinturas de personalidades políticas e descrevendo o jeito de ser das populações locais. Percebe-se em alguns momentos um certo discurso de superioridade face aos visitados, quando ele descreve o papel dos afros-descendentes no momento de carregar as malas para os visitantes e o determinismo do clima no hábito dos brasileiros.
"Me aconselharam pegar um negro que carregaria minha mala, garantindo que não seria necessário se preocupar. Os negros fazem no rio o trabalho dos nossos comissários, com a diferença que sendo escravos seus salários pertencem a seus proprietários. Eu não estava muito disposto a deixar minha mala partir na aventura, e resolvi segui-la a pé, até o lugar onde poderia encontrar as mulas".
Todas as pessoas as quais informei as minhas intenções criaram uma certa inveja: eu devo estar louco, eu não chegaria vivo. É bom dizer que logo depois da chegada, o clima deixa os Europeus tão preguiçosos quanto as pessoas do sul" (Biard, 1859, p. 61).
Biard parte do Rio de Janeiro em direção à Amazônia no ano de 1859. Em 9 de julho ele entra nas águas do Amazonas, o que deixava muitos passageiros contentes, principalmente pela presença da ilha de Marajó. Rapidamente o calor é substituído por uma chuva, tornando a viagem do pintor mais agradável. Durante o percurso ele encontra um cantor que conhecia um hotel em Belém "Existia um hotel! Foi uma graça para mim. Eu o perdoei implicitamente seus cantos." (Biard, 1859, p. 310).
De Belém, o pintor visita as ilhas de Arapiranga, das Onças e do Marajó. Muito bem acolhido ele decide se instalar neste local por alguns dias e revê-las após sua viagem no alto Amazonas, que já estava ansioso em conhecer. Ele ganha uma passagem em um vapor com destino à Manaus, uma "pequena cidade" localizada na confluência do Rio Solimões e o Rio Negro. Durante sua viagem ele encontra vários indivíduos de diferentes nacionalidades e níveis sociais procurando fortuna nas cidades Amazônicas.
"Eu tinha viajado de Southampton ao Rio com franceses, do Rio à Vitória com colonos, quase todos alemães, No Espírito Santo com indígenas, do Rio ao Pará quase que exclusivamente com brasileiros e eu estava na Amazônia com portugueses [...] Quando viajamos pelo Brasil nos barcos a vapor é comum sempre um grande número de empregados, alguns negociantes, mas nunca curiosos" (Biard, 1859, p. 364 a 393).
Neste trecho Biard deixa claro sua impressão com relação às diversas práticas da mobilidade nos espaços amazônicos. Existiam várias motivações que justificavam o deslocamento dos viajantes no interior amazônico durante o século XIX, porém a curiosidade tal como o artista procurava não parecia ser uma prática muito comum para a época, nesta região. Durante sua viagem para Manaus, Biard visita as cidades de Santarém, Óbidos, Vila Bela e Serpa. Um trajeto que é descrito com muita gratidão:
"Eu não acredito que exista no mundo uma navegação mais agradável que esta que eu fazia. Eu tinha imaginado que vindo no Amazonas (rio) veria um mar interior tendo somente o céu no horizonte, ou montanhas perdidas no longínquo. Eu estava longe de reclamar: a cada instante, ao lugar da monotonia, eu via aparecer novos panoramas com aspectos variados e sempre novos. [...] Eu escrevi estas impressões não com as lembranças, mas a partir das notas que o hábito das viagens me fizeram observar como sempre úteis. Poderíamos ver que tenho pouca igualdade na maneira de ver e sentir: Um momento triste, um momento alegre, descontente hoje, entusiasta amanhã." (Biard, 1859, p. 375).
É interessante neste relato que durante o trecho na várzea amazônica o que deveria ser uma viagem longa e monótona é justamente substituída por uma euforia pela descoberta de novas paisagens. Uma descrição que se opõe ao sentimento que teve o pintor no momento em que penetrava na foz do rio Amazonas. O desejo de tocar e vivenciar este momento contagia rapidamente não só o artista, mas todos os viajantes a bordo.
"Pássaros de todas as cores baladam pelas bordas dos rios deste pequeno paraíso terrestre. A água estava tão calma que, com o calor ajudando, todo mundo exprimia o desejo de se banhar. Não corríamos nenhum risco e já falávamos de solicitar a permissão ao capitão. Quinze minutos seriam suficientes. Os que não sabiam nadar procuravam ajuda e apoio nos troncos de árvores que víamos deslizar nas águas" (Biard, 1859, p. 393).
Porém esta mesma natureza impõe limites à pratica do lazer e da viagem. "Os pedidos cessaram nos nossos lábios, quando vimos que estes pedaços de madeira remontando a corrente se observados de perto eram reconhecidos como belos jacarés" (Biard, 1859, p. 393). A presença dos enormes mosquitos com pernas longas, popularmente conhecidos como carapanãs era outro limite que tornava a viagem insuportável.
Chegando em Manaus, o artista declara sua motivação para ver novas tribos, fazer desta vez sérios estudos, continuar sua coleção e concertar seu aparelho fotográfico. Mesmo solicitando ajuda aos moradores não foi possível encontrar hospedagem. Somente um quarto que um individuo alugava aos viajantes que chegavam ocasionalmente em Manaus. Ele decide instalar sua rede na residência de um dos companheiros de viagem que ele conheceu durante o percurso Belém/Manaus. Ele parte para descobrir a região da atual capital do Estado do Amazonas. O fato de encontrar uma cachoeira no Rio Negro o fez ressentir o prazer da viagem.
" Andamos bastante tempo, eu e Polycarpe (ajudante), sem ver nem mesmo um pássaro. O país estava monótono e sem interesse. Nós andávamos na aventura, e eu começava a perder a coragem, quando escutei de longe o barulho de uma cascata, que me fez o sentimento de um trompete em um cavalo de guerra. Neste momento eu não estava mais cansado.[...]Era isto mesmo que procurava para meus estudos." (Biard, 1859, p. 418-419).
À direita, cascata do Rio Negro segundo Biard. A esquerda publicidade dos equipamentos de viagem Monjardet, comercializados em Paris no século XIX e que provavelmente tenha auxiliado a viagem de Auguste-François Biard na Amazônia em 1859.
Source : Séverine Charon in (LEFEBURE, 2005)
O que deixa uma ação questionável foi o fato do pintor sair teoricamente sem destino pelas ruas de Manaus, entrar na floresta e em seguida encontrar uma cachoeira no Rio Negro. A imprecisão da narração dificulta a localização deste atrativo, que poderia estar em algum igarapé local ou mesmo em alguns rios adjacentes como é o caso do atual Tarumã e Tarumã mirim. Porém a distância a ser percorrida a pé, partindo do centro de Manaus coloca em questão o tempo que poderia ter exigido horas. Presume-se assim que o artista deveria ter adquirido informações prévias a respeito da sua existência, colocando a imagem de uma aventura controlável. Mais tarde é possível perceber que Biard se informava dos lugares a percorrer na Amazônia. Em um dos encontros com o M. O****** ele traça um dos itinerários que deveria ser percorrido
" De Manaus, no rio Negro eu deveria entrar nas águas do Amazonas e seguí-lo até o confluente com o rio Madeira, em seguida subir este rio até um lugar chamado Canoma. O resto viria incerto. Eu gostaria de ver os indígenas no estado natural. Era preciso portanto penetrar o máximo possível ao sul. Eu iria desta vez rumo ao desconhecido." (Biard, 1859, 479 p.)
Em seguida Biard parte em direção ao Rio Madeira, chegando na cidade de Canomá. Apesar dos problemas de saúde e as dificuldades materiais, ele realiza vários portraits da tribo de ameríndios Mundurucus e Araras. Ele se interessa a alguns rituais indígenas como o do casamento entre os descendentes e mesmo a preparação de venenos para a captura de caças. Mais tarde o viajante decide retornar à Europa. Durante o caminho de volta ele passa novamente pelo Pará e segue viagem em direção à Nova York e Niágara no Canadá.
A. As práticas de Biard como foco da análise
Tal como apresentado ao longo do artigo, o espaço amazônico revelou distintas mobilidades a partir do século XVI. Seria prematuro pensar que a viagem de Biard o colocaria como o inventor ou mesmo um dos primeiros atores a desenvolver uma prática da mobilidade a fins turísticos nos espaços amazônicos. Mesmo que as motivações iniciais fossem diferentes entre as viagens dos naturalistas e esta empreendida por Biard, a prática nos espaços amazônicos permite transferir aos viajantes uma multiplicidade de papéis.
Um dos modos de definir o turista coloca as práticas como objeto de análise (Stock e Sacareau, 2003). Deste modo, a mobilidade a fins turísticos não está condicionada a um abandono da identidade, da profissão e das origens do indivíduo. Observando a narrativa da viagem de Biard podemos perceber estes elementos. A escolha de uma mobilidade para fora de seus lugares do cotidiano, fortemente marcada pelo enclave amazônico e pelo exótico das pessoas e das paisagens o fez reforçar sua identidade. O fato de ilustrar este exotismo a partir das pinturas, clichês e particularidades da sua obra muitas vezes de forma irônica, demonstra sua afirmação identitária.
Biard apresenta durante seu relato e de sua maneira de olhar os espaços amazônicos uma discontinuidade, uma maneira particular de praticar os espaços. Ele representa as diversas faces do que é a diversidade, a heterogeneidade e a disparidade dos outros seres humanos e lugares. A busca constante por novas paisagens e principalmente pelos selvagens amazônicos, tal como ele havia imaginado antes de abandonar seu atelier parisiense, centraliza a alteridade como um elemento bastante presente na sua obra.
A mobilidade de Biard na Amazônia não se resumia a um simples movimento ou circulação entre os diferentes pontos da rede hidrográfica. Ela se constituía constantemente da busca de uma imagem pré-concebida que o artista tinha com relação aos espaços visitados. Sua viagem demonstra uma ruptura constante dos lugares do cotidiano do artista, mudando completamente a experiência e o significado das práticas. Do seu atelier parisiense para a vida carioca; dos aristocratas da mata atlântica aos "selvagens"amazônicos estas viagens não se constituíam somente em uma mudança geográfica, mas constantemente emocional, simbolizando uma ruptura psicológica com os lugares por onde passou.
Sua viagem na Amazônia de 1859 permite afirmar que o processo de uma cultura turística se desenvolvia neste ambiente. Com a revolução industrial aumentou-se a acessibilidade e a fixação temporária aos diferentes lugares amazônicos. A invenção dos barcos a vapor, das máquinas fotográficas e dos utensílios de viagens são uma prova de que aumentava-se tanto a mobilidade quanto a forma de vivenciar os espaços tropicais.
Os relatos de Biard demonstram que haviam hospedagens para fazer face aos desejos dos viajantes amazônicos da época. Quando esta não existia, os moradores locais disponibilizavam um quarto ilustrando que já havia o desenvolvimento de uma economia local em função das viagens. O fato de Biard se interessar pela culinária local, pelos rituais indígenas e pelos elementos físicos, como é o caso da mítica cachoeira do Rio Negro, demonstram que a valorização dos elementos humanos, naturais justificava seu deslocamento.
Uma das interpretações do turismo o caracteriza como um fato social global (Stock e Sacareau, 2003) que implica diversos atores e estratégias que vão desde os turistas, a sociedade local, terceiro setor, as empresas e o governo. A interação destes atores permitem dar vida aos lugares turísticos. Sob a ótica da prática da mobilidade nos espaços amazônicos, os relatos retratavam a aparição de alguns destes elementos, iniciando o processo de turistificação deste ecossistema. Porém claramente se percebia os limites. Diferenciando da realidade européia no século XIX, a ausência de uma estrutura organizada permitindo reunir turistas aos lugares turísticos é um exemplo do relativo fechamento deste espaço a esta prática da mobilidade. Este é um dos pontos chaves que limitariam considerar a existência de um turismo amazônico no contexto analisado segundo a definição atual do fenômeno.
Conclusão: Dos relatos de Biard às origens de uma prática da mobilidade a fins turísticos nos espaços amazônicos
O presente artigo privilegiou apresentar a evolução das práticas das viagens nos espaços amazônicos ao longo do tempo. Primeiramente marcada pela fabricação do exotismo. O interesse pelos bens materiais e imateriais de povos geograficamente e culturalmente distantes coloca em evidência a construção das imagens e seu poder de atrair diferentes práticas da mobilidade rumo à este lugar exótico do planeta. A popularização das especificidades amazônicas é um dos elementos que justifica o desejo de se dirigir rumo à floresta, permitindo compreender suas diversas ligações com o ocidente.
Com o aumento da presença estrangeira, do desejo de garantir a posse territorial e a necessidade de conquistar novos mercados, às viagens amazônicas adquirem interesses geopolíticos. Os pontos físicos, representados pelas fortificações e cidades marcam os nós essenciais da grande rede hidrográfica. Os caminhos se consolidavam e as diferentes práticas espaciais orientavam e estimulavam o fluxo de bens e pessoas no interior da floresta, favorecendo uma abertura amazônica para o mundo ocidental. Pouco tempo mais tarde esta mesma rede se torna objeto das práticas turísticas.
Face à crise científica européia, a Amazônia se transforma em um destino obrigatório para os naturalistas. Novas formas de viajar são agora inseridos nos espaços amazônicos. O questionamento mitológico demonstra um confronto entre o real e o imaginado, demonstrando as particularidades destas viagens em relação ao contexto do The Grand Tour que se fortalecia na Europa.
Estes elementos permitem compreender que a invenção amazônica atraia visitantes com diferentes motivações e práticas ao longo do tempo. Neste sentido, a viagem de Biard ilustra o que poderia ser a prática da mobilidade turística amazônica no século XIX. Independente da ausência de uma rede organizada de atores e serviços, a Amazônia revelava os enclaves como forma de fortalecer suas especificidades. Associando o tempo de lazer e de instrução, a necessidade de mudança geográfica e perceptiva do sujeito viajante coloca a procura do exotismo como motor da mobilidade. Partindo de um risco controlável e de uma nova forma de observar os elementos naturais e humanos neste ecossistema, utiliza-se os nós da grande rede hidrográfica como forma de organização espacial dos lugares a visitar.
Assim, as diferentes viagens amazônicas, segundo nosso ponto de vista, poderia ser interpretada pela busca do Romantismo Tropical. Esta por sua vez compreendida pela visão francesa da América do Sul no século XIX (Araújo, 2008), que retrata a oposição entre Europa civilizada e a Amazônia selvagem, ilustrada pelos ameríndios, pela fauna e flora de um mundo novo. Desta forma o contato com o outro seria estimulado para confirmar a condição de superioridade do visitante face ao visitado, abrindo ao viajante a possibilidade de renascer no interior da maior floresta tropical brasileira.
Notas
[2] "Dom João II, Rei de Portugal durante os anos 1481 à 1495 recusou em aceitar a partilha de terras proposta pelo papa espanhol Alexandre VI. Segundo a A bula Inter cætera feita pelo representante da igreja católica, as terras portuguesas ficariam à 100 léguas à leste das ilhas de Açores e Cabo Verde. Deste modo foi proposto o acordo de Tordesilhas onde as terras espanholas seriam todas aquelas localizadas à ocidente de uma linha imaginária traçada à trezentas e setenta léguas à Oeste das ilhas Cabo Verde; e a Portugal, as descobertas à leste da mesma linha.
[3] Professor do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Amazonas.
[4] O termo bandeira surgiu no Brasil no final do século XVI, representando um conjunto de inúmeras iniciativas de expedições ao interior do país em busca de pedras e metais preciosos, além da captura de índios para a mão-de-obra escrava. Esse fenômeno permitiu a expansão geográfica do império colonial português para muito além dos traçados previstos no acordo de Tordesilhas, firmado entre Portugal e Espanha e que definiu a partilha do "Novo Mundo" tal como era chamado a América pelos europeus.
[5] Tratados assinados em 1713 entre várias nações européias à respeito das possessões territoriais. No caso específico do Brasil, ele estabelecia o Rio Oiapoque como o limite entre a Guiana Francesa e as terras brasileiras conquistadas por Portugal.
[6] REZENDE, Tadeu Valdir Freitas de. A conquista e a ocupação da Amazônia Brasileira no período colonial: a definição de fronteiras. [These en linge]. Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, letras e ciências humanas. Departamento de história econômica. 2006, 379 p. Disponível através do link: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8137/tde-16072007-123916/ no dia 04 de agosto de 2009.
[7] Ver projeto http://fortalezasmultimidia.com.br/fortalezas, consultado dia 04 de agosto de 2009
[8] O desenvolvimento de novos métodos e recursos das ciência promoveu o estudo da história natural a fim de designar todos os estudos científicos relacionados à natureza contrapondo-os à história política ou eclesiástica. Assim o termo "naturalista", designado para o indivíduo com interesse ou talento em história natural, envolve estudos relacionados à biologia, botânica, ecologia, física, astronomia e arqueologia, dentre outros.
[9] Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau, Timor Leste, São Tomé e Príncipe, Goa e Macau.
[10] Medicamento bastante popular na Amazônia, frequentemente utilizado para cicatrização, inflamações, má digestão, dentre outros.
[11] Viagens destinadas à conversão dos pagãos localizados no interior da floresta.
[12] MEAD, Willian Edward, The Grand Tour in the XVIIIth century, B. Blom, 1972, 478 p. et MAXWELL, Constantia, The English traveller in France 1698-1815, G. Routledge & Sons. 1932, 301 p. in BOYER, Marc, Histoire générale du tourisme du XVIe au XXIe siècl. Editions Harmattan. Paris. 2005. p 41.
[13] Termo utilizado por Marc Boyer no livro Histoire du tourisme de masse para designar os jovens aristocratas ingleses
[14] Cidade localizada no sul da Inglaterra e conhecida desde a época romana pela utilização de suas fontes de água quente no tratamento de doenças crônicas.
[15] Convém ressaltar que o modelo de Estação Balnearia de Nice criado pelos britâncos é voltado para uma estadia de inverno, diferenciando da prática terapêutica. Uma contra-estação à ser vivenciada entre outubro e maio, proporcionando assim uma amenização do clima proporcionado pelo mar mediterrâneo, uma vegetação verde durante o inverno europeu (Boyer, 1996).
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Pour citer cet article :
Keller Andrade Terence, «Viajantes, artistas e filósofos naturalistas: praticaspara uma turistificação amazônica? », RITA, N°3 : avril 2010, (en ligne), Mis en ligne le 10 avril 2010. Disponible en ligne http://www.revue-rita.com/content/view/76/149/